segunda-feira, 27 de março de 2023

AS TERAPIAS DO “AMOR” DOS ANOS 1950-1960. E AGORA?

 

Entre cinéfilos/as, rever filmes é uma dinâmica da vivência no cinema. Há os que se interessam pelos clássicos dos grandes diretores e autores dessa arte. Há os que se interessam pelos temas que marcaram época. E há os que reveem filmes independente de qualificações especiais. Veem por que querem ver, mesmo. É o nosso caso.

Dia desses assistimos (Pedro e eu) a “Tempero do Amor’ (The Thrill of It All, EUA) de 1963, um filme com a Doris Day e James Garner, dirigido por Norman Jewison (a cópia do filme é nossa). O argumento refere o dia a dia de uma dona de casa, branca, classe social média, atividades domésticas, casada com um médico de boa posição. Em um jantar com pessoas da elite ela conta um fato ocorrido horas antes com os filhos que preferiram lavar os cabelos com um sabonete da marca Sempre Feliz, aos usados antes. Entre os convivas, estava o empresário desse produto e, animado, convidou-a para um comercial sobre a sua experiência. À medida que o programa ganhava popularidade os lucros aumentavam, assim como o valor do salário da apresentadora, dona de casa. Vida doméstica em baixa com filhos e marido cobrando a presença da mãe e da esposa. Ao vê-la tão importante mais do que ele próprio, o marido resolve aconselhar-se com um psicólogo do hospital. As mudanças são radicais nas atitudes dele, num fazer de conta que já encontrara os cuidados de outra pessoa. O que ocorre? A esposa sente a culpa, deixa o emprego, retorna ao dia a dia doméstico, e ainda vai curtir uma gravidez, considerando-se felicíssima porque havia retomado o amor do marido. Esses filmes tiveram ampla repercussão na época, haja vista a homogênea sintonia com as regras tradicionais para as meninas e mulheres.

Desta argumentação extrai algumas evidências que estão nas discussões atuais sobre a situação das mulheres, focos da extrema violência que as submete. A atitude da personagem vivida por Doris Day, ao se “re-compor” para a vida do lar é tratada como expressão do “amor” e por culpar-se pelo trabalho fora de casa, trazendo o desapego do marido, haja vista que pelas normas patriarcais a esposa deverá estar à disposição para as necessidades deste e isso é tratado como “amor familiar”. A sedução reversa pelo aconselhamento do psiquiatra da empresa incita o marido a uma dupla vida supostamente afetiva com outra mulher, criando ciúmes para retomar a companhia da esposa. A posição social que esta assumiu ao se tornar conhecida no trabalho com uma imagem pública, enfrenta o “des-poder” dele diante dos colegas médicos que esperam uma resposta masculina positiva.

Na década de 1960 os filmes impunham a representação dos modelos femininos em que essa é a versão da uma “terapia” para a manutenção da família com a submissão feminina em franca positividade. E o que é possível anotar na geração das mulheres que assistiu a esse filme e aos demais nesse modelo onde o machismo estrutural, o racismo, a estrutura capitalista mantinha as cordas do violino enfeixando e enfeitiçando donzelas e que estavam aptas a casar?

Nessa década inicia-se a segunda onda feminista e esses modelos vão enfrentar a crítica necessária para a ruptura com a submissão das mulheres. As instituições (família, igreja, sociedade) encaram essas críticas como anti-familiar, desamor e tantas e mais alusões negativas que procuram desmontar as críticas e subverter a conscientização feminina sobre sua real condição de vida. As mulheres mais ousadas se afastam dos esquemas tradicionais enquanto as demais, possivelmente a maioria, se amedrontam com as retaliações sociais que surgem de todos os lados contra elas. E alguns/algumas seguem até hoje na ideia de que o feminismo tende a ser nefasto socialmente. Na verdade, ele é uma articulação que previne a violência contra as mulheres e denuncia o feminicídio. Precisa ser entendido pelas próprias mulheres sobre a sua história de vida refletindo sobre sua vivência.

A reflexão sobre os filmes que assistimos e sobre a perspectiva do lugar das mulheres-personagens nesses filmes é também um processo de crítica feminista à arte cinematográfica que invade nossas vidas em todos os momentos culturais e de lazer. E, nestes, pensar o lugar da mulher é uma necessidade, porque não dizer exigência, para que não haja uma circulação de atitudes pensadas críticas quando na verdade são recorrências ao status quo. O cinema tem seus redutos castradores como os produtores, diretores e mais, e mais.

Na festa do Oscar-2015 algumas atrizes presentes protestaram sobre as perguntas que fazem a elas sobre seus vestidos no tapete vermelho, mas esperam tratar de sua carreira, planos, atuação. Essa é uma atitude das atrizes críticas de sua representação no ambiente cinematográfico. Hoje elas avaliam a forma discriminadora de serem tratadas nos papéis que representam ou nas questões que são apresentadas nas entrevistas a que são submetidas devido ao tipo de perguntas que a mídia lhes faz. Esse não deixa de ser o confronto com o mundo masculino da arte cinematográfica que sempre situou o homem com os principais papéis. Elas estão constatando também que mesmo nessa área não são levadas a sério. É importante a conscientização dessas grandes mulheres que circulam em múltiplos papéis além de seus próprios enquanto seres humanos. Elas merecem respeito.

Vamos aos filmes, não deixem passar a sua versão sobre a crítica social às mulheres -protagonistas nessa arte.

Feminismos, Presente!

Mulheres, Presente!

segunda-feira, 13 de março de 2023

E O OSCAR VAI PARA ....

 

Na noite de 12/03, foi promovida a entrega das estatuetas anuais do cinema norte americano, considerada a “festa do cinema” em que pese outros eventos promotores dessa arte e em níveis considerados mais valorizados. Se antes era possível chamar de “festa de Hollywood” a entrega do Oscar, presentemente não é mais possível essa designação. Houve inclusão de filmes de produção internacional, nas categorias específicas e muitas premiações que equivaleram reformular a dimensão da esfera nacional norte americana, no convívio do mercado de produção, distribuição e exibição. Sim, esse aspecto é que agora determina quem é quem nas indicações dos filmes, por meio de uma seleção colegiada multidividida de eleitores e selecionadores para essa noite esperada por milhões de cinéfilos e, principalmente, por espectadores médios mundiais.

As indicações deste Oscar 2023 seguiram a fórmula de anos recentes em que o cinema asiático, europeu, africano e de outras regiões trouxeram sua significativa presença para “encantar” esse mercado exibidor norte-americano, porque para concorrer nesse evento e ao menos ser indicado para receber essa estatueta, há regras datadas e específicas que dizem respeito em especial aos produtores. Sabe-se que o sistema da arte sob o capitalismo não foge à regra de se constituir um produto mercantilizado e exigente das regras de distribuição.

Assisti, com Pedro Veriano, a maioria dos indicados ao Oscar deste ano. Marco Antonio Moreira, nos emprestando cópias em DVD dos filmes lançados e, também assistidos nos canais streaming facilitadores atuais desses lançamentos. Tecnologias e narrativas interessantes que nos faziam optar sobre este ou aquele vencedor na tal noite do Oscar.

A 95ª cerimônia de entrega dos Academy Words foi longa. Com a lista dos indicados na mão e a caneta ao lado, discutia com o Pedro e com o Marco Moreira (via WhatsApp), as premiações que iam sendo reveladas na abertura dos tradicionais envelopes sob a guarda de atores e atrizes, algumas caras novas nesse mundo do cinema. E nessa estratégia chegamos até a madrugada deste 13/03.

Em dezembro do ano passado assisti, no Amazon Prime Video, a “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo” ( EUA, 2022, 2h19min) escrito e dirigido por Daniel Scheinert e Daniel Kwan. Houve uma sensação inicial de estranhamento pela narrativa em que milhares de partículas se interpenetravam, interagiam, outras ficando estáticas, ou se movimentando loucamente. Esse processo incomoda aos que estão acostumados com a “linguagem certinha” sobre um tema. Que tema? Perguntei a mim mesma. E revi o filme. Fui juntando algumas ideias sobre ele, sobre as personagens, sobre uma em particular. E fui gostando do que assistia.

Não li nenhuma análise crítica ao filme porque eu precisava das minhas próprias ideias para a demonstração pessoal sobre um assunto que o cinema estava dizendo – é difícil  de entender – e eu acreditava estar vivendo aquela realidade. Na ficção científica? Não era o caso. Emergiu a figura de Evelyn (Michelle Yeoh), uma mulher, que administrava uma lavanderia familiar. Nessa situação, outras tarefas se interpunham nas condições de vida dela, a administração da casa, onde os cuidados com todos se trançavam entre suas próprias despesas em confronto com as notas fiscais que teria que encontrar sobre os custos na empresa, o cotidiano da família e as diversas decisões que tinha que tomar em nome de sua vida afetiva, de seus preconceitos, do tempo para negociar suas dívidas com a auditora implacável da receita (Jamie Lee Curtis) em torno da papelada comercial que nem sempre estava conforme as demandas da fiscalização.

Esse multiverso que desdobrava a partir daquelas cenas se confundiam com um jogo como se constituíssem em universos paralelos que estavam em circulação no cotidiano de Evelyn. Ela priorizava tudo, defendia seu ponto de vista, mas recorria contraditoriamente em novas pegadas a caminho. O idoso, a quem alimentava e medicava, o marido que expunha algumas ideias , eram aceitas, mas ao mesmo tempo  se tornavam inúteis e  havia a recomposição da atitude. Revisão do preconceito homofóbico, do etarismo, do amor, de todas as circunstâncias que escravizam , que destroem a liberdade, que desmontam o afeto.

Então, vejam minha visão se integrava à de milhões de mulheres que vivem nesse multiverso. Não era um filme de ficção científica, mas a evidencia que estas condições em que o caos se ordena são vividas por nós, mulheres.

Estou eu aqui, apaixonada pelo filme. Porque trata de um multiverso feminino que espelha o fio das vivências das mulheres.

Vou re-re- ver o filme. Porque tudo em todo o lugar ao mesmo tempo, é a nossa prática cotidiana.

 

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

LISTAS INDIVIDUAIS - MELHORES FILMES DO ANO 2022

 

TITANE 

PINOCHIO, DE GUILLERMO DEL TORO 

LICORICCI PIZZA 

BENEDETTA 

AFTERSUN

ARGENTINA, 1985 



PEDRO VERIANO

1.      Drive my Car, de Ryūsuke Hamaguchi

2.      Ennio, O Maestro, de Giuseppe Tornatore

3.      Benedetta", de Paul Verhoeven

4.      Belfast, de Kenneth Branagh

5.      Titane, Julia Dicournau

6.      Mães Paralelas, de Pedro Almodóvar

7.      Crimes Do Futuro, de David Cronenberg

8.      Flee - Nenhum Lugar para Chamar de Lar, Jonas Poher Rasmussen

9.      Não, Não Olhe, de Jordan Peele

10.    Pureza, de Renato Barbieri

Outras categorias

Melhor Diretor – Paul Verhoeven (Benedetta)

Melhor ator: Hidetoshi Nishijima (Drive my Car)

Melhor atriz - : Virginie Efira (Benedetta)

 

LUZIA ÁLVARES

1.      Drive my Car, de Ryūsuke Hamaguchi

2.      "Benedetta", de Paul Verhoeven

3.      Memórias, de Apichatpong Weerasethakul

4.      Aftersun, de Charlotte Wells

5.      Mães Paralelas, de Pedro Almodóvar

6.      Ennio, O Maestro, de Giuseppe Tornatore

7.      A Pior Pessoa Do Mundo, de Joachim Trier

8.      Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, de Dan Kwan, Daniel Scheinert

9.      A Ilha De Bergman, de Mia Hansen

10. Pureza, de Renato Barbieri

 

Demais Categorias

Melhor direção: Ryusuke Hamaguchi (Drive my Car),

Melhor ator: Hidetoshi Nishijima (Drive my Car),

Melhor atriz: Tilda Switon (Memórias),

Melhor Ator Coadjuvante: Jude Hill (Belfast),

Melhor Atriz Coadjuvante: Reika Kirishima (Drive my Car),

Melhor Roteiro Original: Tudo Em Todo O Lugar Ao Mesmo Tempo

Melhor Roteiro Adaptado: Drive my Car,

Melhor Montagem: Ennio, O Maestro,

Melhor Figurino: Mães Paralelas/ Benedetta,

Melhor fotografia: Benedetta

Melhor direção de arte (desenho de produção): Benedetta

Melhor Animação (longa): Pinóchio, de Guillermo del Toro

Melhor Trilha Sonora: Ennio O Maestro,

Melhor Efeitos Especiais: Bardo, de Alejandro González Iñárritu

Melhor Documentário (longo): Ennio O Maestro.

Melhor Documentário (curta): Amador, Zélia, direção e roteiro de Ismael Machado (Produtora Floresta Urbana).

MENÇÕES

Menções Especiais: O legado dos cineastas Jean-Luc Godard, Jean-Marie Straub e Alain Tanner para o cinema.

Menção Especial – FICCA – 8º Festival Internacional de Cinema do Caeté – Bragança/Pa – 08 a 10 de Dezembro de 2022. https://www.ficca.net.br/

 

MARCO ANTONIO MOREIRA

1) Drive my Car de Ryusuke Hamaguchi

2) Memórias de Apichatpong Weerasethakul

3) O Festival do Amor de Woody Allen

4) Ennio O Maestro de Giuseppe Tornatore

5) Licorice Pizza de Paul Thomas Anderson

6) Crimes do Futuro de David Cronenberg

7) Mães Paralelas de Pedro Almodóvar

8) Aftersun de Charlotte Wells

9) Marte Um de Gabriel Martins

10) Bardo Falsa Crônica de Algumas Verdades de Alejandro González Iñárritu

 

Categorias:

Melhor direção: Ryusuke Hamaguchi (Drive my Car)

Melhor ator: Hidetoshi Nishijima (Drive my Car)

Melhor atriz: Tilda Switon (Memórias)

Melhor Ator Coadjuvante: Jude Hill (Belfast)

Melhor Atriz Coadjuvante: Reika Kirishima (Drive my Car)

Melhor Roteiro Original: O Festival de Amor

Melhor Roteiro Adaptado: Drive my Car

Melhor Montagem: Ennio O Maestro

Melhor Figurino: Mães Paralelas

Melhor fotografia: Drive my Car

Melhor direção de arte (desenho de produção): Drive my Car

Melhor Animação (longa): Pinóchio, Melhor

Trilha Sonora: Ennio Morricone em Ennio O Maestro

Melhores Efeitos Especiais: Titane e Bardo

Melhor Documentário: Ennio O Maestro

Menções Especiais: O legado dos cineastas Jean-Luc Godard, Jean-Marie Straub e Alain Tanner para o cinema.

 

FRANCISCO CARDOSO

01. Drive my car (Ryusuke Hamaguchi)

02. Tudo em todo lugar ao mesmo tempo (Dan Kwan e Daniel Scheinert)

03. Titane (Julia Dicournau)

04. Festival do Amor (Woody Allen)

05. Licorice Pizza (Paul Thomas Anderson)

06. Roda do Destino (Ryusuke Hamaguchi)

07. Um Herói (Asghar Farhadi)

08. Benedetta (Paul Verhoeven)

09. O homem do Norte (Robert Eggers)

10. Argentina,1985 (Santiago Mitre)

Categorias

Melhor Diretor: Ryusuke Hamaguchi)

Melhor Ator:Amir Jadidi (Um Herói)

Melhor Atriz: Michelle Yeoh (Tudo em todo lugar ao mesmo tempo)

Melhor Ator Coadjuvante: Peter Lanzari (Argentina, 1988)

Melhor Atriz Coadjuvante: Charlotte Rampling (Benedetta)

Melhor Design de Produção: Titane (Laurie Colson e Lise Péault)

Melhor Montagem: Tudo em todo lugar ao mesmo tempo (Paul Rogers)

Melhor Fotografia: O homem do Norte (Jarin Blaschke)

Melhor Trilha Sonora: Festival do Amor 

Melhor Canção Original: Top Gun, Maverick (“Hold my Hand” por Lady Gaga)

Melhor Figurino: Benedetta (Pierre-Jean Larroque)

Melhor Roteiro Adaptado: Drive my car (Ryusuke Hamaguchi e Takamasa Öe)

Melhor Roteiro Original: Tudo em todo lugar ao mesmo tempo (Dan Kwan e Daniel Scheinert)

Melhor Animação: Pinóquio (Guillermo del Toro e Mark Gustarfson)

Melhor Documentário: Ennio, o Maestro (Giuseppe Tornatore)

 

ISMAELINO PINTO

1- Segredos do Putumayo

2 - Ennio, o maestro

3 -  Pureza

4 - O homem do Nort

5 - Elvis

6 - Licorice Pizza

7 - O acontecimento

8 - Não, não olhe

9 - A viagem de Pedro

10 - Flee - Nenhum lugar para chamar de lar.

 

Categorias

Melhor direção: Robert Eggers ( O homem do norte)

Melhor ator: Alexander Skarsgård (O homem do Norte)

Melhor atriz: Dira Paes (Pureza)

Melhor ator coadjuvante: Ethan Hawke (O homem do Norte)

Melhor atriz coadjuvante:  Olivia DeJonge (Elvis)

Melhor Roteiro Original: Paul Thomas Anderson (Licorice Pizza)

Melhor Roteiro Adaptado: Flee - Nenhum Lugar para Chamar de Lar.

Melhor Montagem: Jonathan Redmon (Elvis)

Melhor Figurino: Catherine Martin e Miuccia Prada  (Elvis)

Melhor fotografia: Jarin Blaschke (Homem do norte)

Melhor Animação (longa): Flee – nenhum lugar para chamar de seu.

Melhor animação (curta): The Windshield Wiper, de Alberto Mielgo

Melhor Trilha Sonora: Elvis

Melhor Canção: Doja Cat, “Vegas" , Elvis

Melhor Efeito Especial: O Homem do Norte

Melhor Documentário: Segredos de Putumayo.

Menções Especiais:  a volta do Festival de Cinema Italiano para Belém.

 

DEDÉ MESQUITA

1º - Aftersun (de Charlotte Wells)

2º - A Pior Pessoa do Mundo (de Joachim Trier)

3º - RRR - Revolta, Revolução e Rebelião (de S. S. Rajamouli) - Netflix

4º - Belfast (de Kenneth Branagh)

5º - Pinóquio (de Guillermo del Toro) - Netflix

6º - Flee (de Jonas Poher Rasmussen)

7º - Peter von Kant (de François Ozon)

8º - Não, Não Olhe (de Jordan Peele)

9º - Licorice Pizza (de Paul Thomas Anderson)

10º - Roda do Destino (de Ryusuke Hamaguchi)

 

Categorias:

Diretor: Charlotte Wells (de “Aftersun”)

Ator: Denis Ménochet (“Peter von Kant”)

Atriz: Renate Reinsve (“A Pior Pessoa do Mundo”)

Ator Coadjuvante: Anthony Hopkins (“Armageddon Time”)

Atriz Coadjuvante: Angela Bassett (“Pantera Negra - Wakanda Forever”)

Roteiro Original: Não, Não Olhe (de Jordan Peele)

Roteiro Adaptado: Flee

Melhor Animação: Pinóquio

Melhor Documentário: Kobra – Autorretrato

Melhor Montagem: Aftersun

Melhor Fotografia: RRR

Direção de Arte: RRR

Melhor Som: Top Gun

Melhor Trilha Sonora: Batman (Michael Giacchino)

Melhor Canção:  -

Melhores Efeitos Especiais: RRR

Melhor Cabelo & Maquiagem: “Spencer”

Melhor Figurino: “Spencer”

Melhor Filme Nacional: “Marte Um”, de Gabriel Martins

 

MELHORES DO CINEMA 2022 - ASSOCIAÇÃO DE CRÍTICOS DE CINEMA DO PARÁ (ACCPA)

 A Associação de Críticos de Cinema do Pará (ACCPA) elegeu os melhores do Cinema em 2002 a partir da seleção de filmes inéditos exibidos nos cinemas de Belém e disponíveis em canais de streaming. Desse modo, a ACCPA mantém a tradição da escolha dos melhores do Cinema iniciada em 1962 que inclui filmes e diversas categorias artísticas vinculadas às produções como melhor filme, diretor, ator e atriz. A ACCPA espera que cinemaníacos e cinéfilos assistam ou revejam os filmes escolhidos para ampliação dos debates de cada obra fílmica.

Participaram da eleição de 2022 os críticos de cinema Pedro Veriano, Luzia Miranda Álvares, Marco Antonio Moreira, Francisco Cardoso, Ismaelino Pinto e Dedé Mesquita. (M.A.M.)

Feliz 2023 para todos!

 

Melhores Filmes

1)      Drive My Car, de Ryusuke Hamaguchi (40 pontos)

2)      Ennio, O Maestro, de Giuseppe Tornatore (30 pontos)

3)      Benedetta, de Paul Verhoeven (20 pontos)

Aftersun, de Charlotte Wells (20 pontos)

5)      Licorice Pizza, de Paul Thomas Anderson (19 pontos)

6)      Memória, de Apichatpong Weerasethakul (17 pontos)

7)      O Festival do Amor, de Woody Allen (15 pontos)

Mães Paralelas, de Pedro Almodóvar (15 pontos)

9)      Belfast, de Kenneth Bragnah (14 pontos)

Titane, de Julia Dicournau (14 pontos)

 Categorias:

 Melhor diretor: Ryusuke Hamaguchi (Drive my Car)

Ator: Hidetoshi Nishijima (Drive my Car)

Atriz: Tilda Switon (Memória)

Ator Coadjuvante: Jude Hill (Belfast)

Atriz Coadjuvante: Reika Kirishima (Drive my Car)

Melhor Roteiro Original: Dan Kwan e Daniel Scheinert (Tudo em todo Lugar ao mesmo tempo)

Melhor Roteiro Adaptado: Ryusuke Hamaguchi e Takamasa Oe baseado na obra literária de Haruki Murakami

Melhor Montagem: Massimo Quaglia (Ennio O Maestro)

Melhor Figurino: Pierre-Jean Larroque (Benedetta)

Melhor Fotografia: Jarin Blaschke (O Homem do Norte)

Melhor Animação (longa): Pinóchio de Guillermo Del Toro

Melhor Animação (curta): The Windshield Wiper de Alberto Mielgo

Melhor Trilha Sonora: Ennio Morricone (Ennio O Maestro)

Melhores Efeitos Especiais: Lazaro Cervantes, Salvador Servin, Alejandro Vazquez e

Karen Vazquez (Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades)

Melhor Documentário (longa): Ennio O Maestro de Giuseppe Tornatore

Melhor Direção de Arte: Benedetta, Drive my Car, Titane e Revolta, Rebelião, Revolução

Melhor Canção Original: Hold my Hand (Top Gun Maverick) e Doja Cat (Elvis)

Melhor Som: Marco Alice, James Austin, David Betancourt (e outros) (Top Gun Maverick)

Melhor Cabelo e Maquiagem: Tanja Adams e Charlotte Alpert (e outros) (Spencer)

Menções especiais:

·        - O legado cinematográfico dos cineastas Jean-Luc Godard, Jean-Marie Straub e Alain Tanner que faleceram esse ano

·        - A realização do 8º Festival Internacional de Cinema do Caeté (FICCA)(Bragança/Pa).

·        - A exibição do Festival de Cinema Italiano 2022

·        - A realização do Amazônia (Fi) Doc 2022



sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

A TRADIÇÃO DAS LISTAS DE MELHORES FILMES DO ANO – E A MINHA LISTA PESSOAL DE 2022

 

Desde 1962, ano de criação da APPC (depois ACCPA), o registro dos melhores filme do ano em Belém, tornou-se uma tradição. Muitos colegas que escreviam seus textos e publicavam na imprensa, tornaram-se membros efetivos da associação. O caminho levou-a a uma certa institucionalização, com regulamento & tudo, mas em uma nova dimensão e revisão dos contatos entre os membros, ponderou-se na sua permanência na perspectiva de uma associação culturalmente integrada ao formato de sua nascença em 1962. Houve dirigentes que se propunham a alavancar políticas de incentivo à formação de pessoas interessadas da cultura cinematográfica. E, como aliado, instituiu-se a criação de um Cineclube. Uma caminhada, a sensação de manter vivo no Pará o germe do interesse sobre essa arte e sua linguagem, criou travessias, frestas, encontros, ou seja, atividades entre cinéfilos engajados com essa política de formação de plateias para o cinema. Além de Pedro Veriano, eu presidi a ACCPA e hoje, quem está na vez, é Marco Antonio Moreira. Um presidente e um incentivador da Sétima Arte em todos os espaços que seja possível a sua divulgação. E ele está assegurando essas atividades, mesmo que nesses anos de pandemia a atividade presencial tenha perdido a força, operando-se com a perspectiva virtual e a dinâmica do Marco é a de ser redator de uma coluna de cinema, realização de lives temáticas e programas de rádio etc. Alguns colegas cinemaníacos ainda estão “com a força” e seguem os melhores filmes que são lançados nas plataformas visuais streaming. Esse foi um passo necessário e promissor porque hoje em dia todo mundo sabe que “tratar de cinema”, não é somente “assistir aos filmes”, mas estudar a sua linguagem.

Destarte, estamos aí com mais uma lista dos melhores filmes que assistimos nesse ano de 2022. De minha parte e do Pedro Veriano, através das plataformas de streaming e, também, pelo carinho e solidariedade do querido Marco Moreira em nos trazer os DVDs com os filmes exibidos no circuito de cinema. Agradeço a amizade e o desvelo dele que tem nos envolvido.

Que em 2023 possamos ter mais bons filmes e novas possibilidades presenciais!

Apresento, então, a minha lista de melhores filmes deste ano.

 

LISTA DE MELHORES FILMES DO ANO - 2022

LUZIA ÁLVARES

1. Drive my Car, de Ryūsuke Hamaguchi

2. "Benedetta", de Paul Verhoeven

3. Memórias, de Apichatpong Weerasethakul

4. Aftersun, de Charlotte Wells

5. Mães Paralelas, de Pedro Almodóvar

6. Ennio, O Maestro, de Giuseppe Tornatore

7. A Pior Pessoa Do Mundo, de Joachim Trier

8. Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, de Dan Kwan, Daniel Scheinert

9. A Ilha De Bergman, de Mia Hansen

10. Pureza, de Renato Barbieri

 

Demais Categorias

Melhor direção: Ryusuke Hamaguchi (Drive my Car),

Melhor ator: Hidetoshi Nishijima (Drive my Car),

Melhor atriz: Tilda Switon (Memórias),

Melhor Ator Coadjuvante: Jude Hill (Belfast),

Melhor Atriz Coadjuvante: Reika Kirishima (Drive my Car),

Melhor Roteiro Original: Tudo Em Todo O Lugar Ao Mesmo Tempo

Melhor Roteiro Adaptado: Drive my Car,

Melhor Montagem: Ennio, O Maestro,

Melhor Figurino: Mães Paralelas/ Benedetta,

Melhor fotografia: Benedetta

Melhor direção de arte (desenho de produção): Benedetta

Melhor Animação (longa): Pinóchio, de Guillermo del Toro

Melhor Trilha Sonora: Ennio O Maestro,

Melhor Efeitos Especiais: Bardo, de Alejandro González Iñárritu

Melhor Documentário (longo): Ennio O Maestro.

Melhor Documentário (curta): Amador, Zélia, direção e roteiro de Ismael Machado (Produtora Floresta Urbana).

 

MENÇÕES

·        Menções Especiais: O legado dos cineastas Jean-Luc Godard, Jean-Marie Straub e Alain Tanner para o cinema.

 

·        Menção Especial – FICCA – 8º Festival Internacional de Cinema do Caeté – Bragança/Pa – 08 a 10 de Dezembro de 2022.

 

·        - A realização do Amazônia (Fi) Doc – Festival Pan-Amazônico de Cinema 2022.

 

·        -- A exibição do Festival de Cinema Italiano - 2022

 




 

sábado, 4 de junho de 2022

PUREZA, O DOCUDRAMA, E A ODISSEIA DA VIOLÊNCIA

 

Dira Paes representa Pureza, a mãe em busca do filho e a denúncia da escravidão moderna 

Uma prática contumaz de minha escrita é revelar alguns pontos que às vezes preciso expor para o reconhecimento de minhas reflexões, desvelar uma história de vida. A avaliação que fiz após assistir ao filme “Pureza” (Brasil, 2019, 1h41min), deixei para um texto final. Preferi tratar do filme e, na conclusão, essa seção da minha experiência de pesquisa sobre as conflito de terras com personagens entrevistadas, pode ser registrada.

Dirigido por Renato Barbieri, com roteiro do diretor e de Marcus Ligocki Júnior, tendo como protagonista a atriz Dira Paes, além de outros atores coadjuvantes, o filme tem base na história real de Pureza Lopes Loyola, moradora na zona rural, que sai em busca do único filho há muitos meses sem dar notícias, desde que se aventurou em busca de novos trabalhos que tirassem a mãe e ele próprio da vida miserável que levavam no interior maranhense, numa olaria precária. No desenrolar de uma caminhada urbana a mulher percebe que ninguém viu nem conhece seu filho, mesmo apresentando uma foto em que ele poderia ser reconhecido. E nesse percurso vai sabendo de outros locais de trabalho que são possíveis de o filho estar na lida. Segue essa procura, o filho em primeiro lugar, e enfrenta qualquer obstáculo desde que consiga descobrir seu paradeiro. Consegue trabalho em uma fazenda e se depara com situações assustadoras, de maus tratos e violência e escravidão até o momento em que é possível reconhecer que a ousadia de percorrer tantos caminhos também justificam uma denúncia sobre a dimensão escancarada da violência.

Esta síntese de uma argumentação da história das caminhadas de Pureza, a mãe que ama o filho e objetivamente exige-se encontrá-lo, a meu ver, expressa-se em três atos, na construção do roteiro e realização do filme.

O primeiro ato é a exposição de um perfil provisório (forma inicial de apresentar esse aspecto) sobre essa mãe-mulher. Essas sequências apontam para as condições de sub-trabalho de Pureza e do filho Abel, a penúria em que vivem numa casa desconfortável, o tipo de produto produzido – tijolos precários – e, sem dúvida, forma de pagamento ainda mais precária. É a miséria que briga com a necessidade para garantir-lhes a sobrevivência. O filho opta por um começo em novos trabalhos, fora de onde vive. E a mãe, sem notícias dele deixa tudo, trabalho e casa, meses depois dessa situação.

Veja-se, o corte temporal entre a saída do filho, de casa, e o tempo em que ela vai em busca de notícias, traz as referências na fala de Pureza aos interlocutores por onde circula. É uma forma de evidenciar que houve um tempo em que ela esperou por ele e não contatou. É uma estratégia estética entre o tempo passado e o tempo presente sem que haja um indicativo sobre isso.

O segundo ato que expõe outros aspectos do filme é quando a personagem Pureza vê uma oportunidade de chegar até ao filho se aproximando de um grupo de trabalhadores reunidos para embarcar para outra cidade, uma vez que seu percurso busca outros rumos. As fazendas dos municípios paraenses estão contratando trabalhadores. O responsável pela articulação é claro e decisivo quando pronuncia seu discurso de excitabilidade aos que estão no grupo, ansiosos por qualquer trabalho. E Pureza é incluída na vaga da cozinheira que faltou ao encontro. Ela estava lá por outro motivo, mas vê que pode dar conta do “serviço”. Mulher é sempre vista como doméstica, cozinheira e tudo nessa linha do sub-trabalho feminino.

O terceiro ato é a vivência da mãe no processo de trabalho na cozinha dos chefes, local onde também foi instalado um sistema de radioamador. Entre as tarefas domésticas, o contato com os trabalhadores, e principalmente com os chefes, Pureza atende aos chamados a estes, pelo rádio, e sua primeira pergunta é sobre o filho. Assiste à violência contra os trabalhadores, a falta de salários conforme o prometido, o tratamento aos que se rebelam para deixar o emprego e a violência contra os que enfrentam as regras. Morte, trabalho escravo e poder sobre a vida de todos é um aspecto que ela observa e se revolta, pois supõe esse tratamento ao próprio filho. Às vezes trata os trabalhadores com carinho, ou lhes leva alimentos. E, na observação desses sofrimentos, consegue uma licença para ir à cidade e então começa uma outra fase em que se engaja para denunciar aquele estado de coisas.

Por que dividir em atos este texto reflexivo sobre a elaboração do roteiro e a realização do filme? Na verdade, a noção que é evidenciada e esse aspecto não muda, uma assertiva singular porque discriminada pelo imaginário social, é que Pureza vai até as últimas consequências – tarefeira, militante e ousada – pela sua condição materna. Esse aspecto é central na estruturação da narrativa e por isso vejo uma estética inventiva latino-americana, ao avaliar, por exemplo, os escritos de Silvia Oroz sobre o melodrama, o cinema de lágrimas. Não que o público se debulhe em lágrimas ao assistir ao filme, mas este deixa ver o que tem maior repercussão no embate político assumido, nas “considerações finais” pela mãe de Abel.

Considerei “Pureza” numa estética de docudrama, que segundo os textos que li “é um estilo de documentário que apresenta de forma dramática a reconstituição de fatos, utilizando-se atores para isso. Podem ser representados assuntos contemporâneos ou eventos históricos (Compact Oxford English Dictionary).

No caso de “Pureza” isso ocorre. E o diretor apresenta, nos créditos finais, as consequências de edição de políticas com o avanço das denúncias de Pureza Lopes Loyola.

Gostei muito do filme. Li algumas críticas inclusive questionando a condição da mãe como algo extemporâneo.

A estética latino-americana precisa ser valorizada e os filmes brasileiros, nessa linha de denúncia, devem utilizar dela e sair das “caixinhas anglo-americanas”.

 

UMA HISTÓRIA PESSOAL: COMO ENTENDI “PUREZA”

Nos anos 1980 eu estava definindo o tema de discussão de um projeto para o mestrado com pretensão de apresentar ao NAEA, uma pós-graduação a qual eu poderia tratar do problema que eu já havia definido: as mulheres na luta pela terra na Amazônia. Esta questão emergira pela permanente convivência na CPT – Comissão Pastoral da Terra – levada por Isabel Tavares da Cunha, grande amiga e parceira na militância pública e que estava atenta à violência que eclodia nos “conflitos entre os grandes proprietários, amparados pelo governo e economicamente poderosos, e os pequenos posseiros isolados e desprotegidos, invariavelmente os perdedores. Muitos morreram vítimas de pistoleiros, outros fugiram das fazendas onde viviam em regime de semiescravidão.” (CPT-CPDOC).

Percorrendo alguns municípios onde as mulheres dos trabalhadores rurais monitoravam a presença de seus maridos presos, sentadas nas portas das cadeias, haja vista que à noite os milicianos os levavam para Belém e/ou “desapareciam” com eles, considerei que esse era o meu tema-base para estudar. Fiz várias entrevistas com pessoas integradas aos movimentos sociais entre os quais, o Humberto Cunha e outros nessa linha indicados por ele. Sistematicamente esses encontros eram em locais que só se sabia na hora da entrevista. E foi nessa condição de pesquisadora e militante do movimento de mulheres que percebi os conflitos de terra, o processo de semiescravidão em que viviam os agricultores e os que procuravam emprego nas fazendas cujos terrenos eram desmatados e limpos para a criação de gado. Nesse momento vários personagens vieram à tona nas entrevistas, como o “gato”. Fiz entrevista com um deles também. Veja-se que segundo dados “... entre 1975 e 1984 foram mortos pelo menos dez agentes da CPT e 37 líderes rurais. Os trabalhadores escravizados e mortos nem tinham conta. Mas havia denúncias sobre esses assassinatos.

Por condições objetivas (docente da UFPA, jornalista em O Liberal além de mãe de quatro meninas), angustiada por não poder viver nessa caminhada sistemática nos locais em que as mulheres rurais viviam seus dramas de vida e morte, optei por outro tema sobre as mulheres na política paraense, ideia das conversas com um colega do então Departamento de Ciência Política, o Raimundo Jorge de Jesus – trocar os estudos da área rural pela urbana. E o problema angustiante – academia e militância – se resolveu e escrevi minha dissertação de mestrado, transformada em livro, hoje.

Ao assistir “Pureza” as lembranças desse tempo nas caminhadas dos trabalhadores rurais com a Isa Cunha formaram fortemente minhas lembranças de observação e avaliação sobre a luta ao escravismo que ainda existe. (LMA)